Autora: Maggie Stiefvater
Editora: Verus
Número de páginas: 375
Classificação: 5/5 (favorito)
Minha Opinião:
Todo início de novembro, cavalos d' água emergem do oceano e galopam pela areia da pequena ilha Thisby. Velozes, instáveis e com um forte instinto assassino, muitos moradores temem sua fúria, e tantos outros já foram suas vítimas fatais. Poucos tem a coragem de aproximar-se do oceano, e capturá-los, com o intuito de participarem da famosa Corrida de Escorpião.
Destemidos e com muito a perder, os cavaleiros passam dias treinando as feras do oceano, e participando de rituais que atraem turistas de todo mundo.
Sean Kendrick, de 19 anos, é praticamente uma lenda de Thisby. Introspectivo, e amante dos cavalos, foi vencedor da corrida por quatro vezes. Este é mais um ano que ele irá competir, porém, a vitória não é a única coisa que está em jogo. Puck Connolly é uma novata nas corridas. Sem opção, ela irá competir para tentar fazer com que seu irmão Gabe desista da ideia de ir para o Continente.
"Existem momentos dos quais você vai se lembrar pelo resto da vida, existem momentos que você pensa que vai se lembrar pelo resto da vida, e não acontece com muita frequência que sejam os mesmos momentos. Mas, quando Peg Gratton se vira e inclui meu nome na lista, branco no preto, eu sei, sem sombra de dúvida, que essa é uma imagem da qual nunca me esquecerei" (pág. 68)Sempre quis ler algum livro da Maggie - autora da trilogia Calafrio - e começar com A Corrida de Escorpião me encheu de entusiasmo para querer devorar todas as suas obras.
Eu não sabia o que esperar de um livro infanto-juvenil, que trazia uma adaptação de uma lenda sobre cavalos d' água carnívoros, conhecidos como Capall Uisce. A autora utilizou todos os elementos que eu aprecio em uma mitologia: uma história inovadora e bem trabalhada, cenários e personagens tão palpáveis, que te fazem acreditar em cada linha, mesmo que o conceito de cavalos emergindo das águas pareça meio estranha de início. Sua escrita é lírica e envolvente.
Narrado em primeira pessoa - em capítulos alternados - por Sean e Puck, o ritmo é lento, porém, nunca cansativo. É possível perceber que a maior preocupação de Stiefvater, foi criar personagens com sentimentos complexos, que se abrem para o leitor a medida que avançamos pelas páginas.
Em pouco tempo eu estava tão familiarizada com os rituais que antecediam a corrida, e com os participantes, que me senti parte da plateia, esperando ansiosa pelo início da corrida.
“A verdade é que me sinto fascinado e repelido por ela: Kate é, ao mesmo tempo, um espelho de mim mesmo e uma porta para uma parte desta ilha que não sou eu.” (pág. 198)Adorei o modo como Maggie tratou a relação de Sean e Corr, seu Capall Uisce. O fascínio e a paixão de Sean por Corr é pungente. Tanto que no final, a impressão que eu tinha sobre o cavalo mudou totalmente. De início medo, por se tratar de uma criatura mortal, e no final respeito e carinho, pela lealdade devotada ao seu dono. Sean tem aquele jeito sorumbático que eu adoro. Suas ambições parecem pequenas, mas são suas motivações que me fizeram amá-lo.
Puck (Kate) é completamente impulsiva, e o motivo inicial que a faz querer participar da corrida pode parecer infantil e incoerente. Mas aí é onde entra a magia de Maggie. A personagem amadurece com o tempo. Sua decisão de participar da corrida, passa de irracional para totalmente compreensível. Tem a ver com o amor que sente por seus irmãos, e algo intrinsecamente altruísta.
O romance entre os dois nos é apresentado com uma singeleza sem tamanho, ainda que este não seja o foco. Puck e Sean tem muito em comum. Ambos são apaixonados por seus cavalos, compartilham um passado trágico, e sentem que pertencem aquela ilha, assim como os Capall Uisce pertencem ao mar.
Não temos apenas a corrida acontecendo, tanto que sua tensão fica reservada apenas para o final. Os sentimentos trazidos à tona engrandecem o enredo. O livro não é só sobre a corrida e a relação dos cavaleiros com seus cavalos. Vai muito além. Nas entrelinhas podemos observar a linha tênue que separa dois caminhos perigosos: o risco de lidar com cavalor mortais, e também com seres humanos que não possuem escrúpulos, tornando-se uma ameaça tão, ou mais, perigosa do que as feras do mar.
Posso dizer com propriedade que este é o melhor livro que li este ano. Me arrancou lágrimas, me fez devanear como seria pertencer a Thisby, e com certeza cada linha ficará gravada em minha memória por muito tempo.