[Resenha] Dias Perfeitos - Raphael Montes

Livro: Dias Perfeitos
Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 274
Classificação: 4/5

Minha Opinião:

Quando a editora mandou as opções do mês para os parceiros escolherem, não tive dúvidas ao solicitar o nacional Dias Perfeitos, após ver a indicação de Scott Turow na capa.
Quer dizer, não foi apenas pela indicação. Apesar de jovem, Raphael impressionou crítica e público com sua primeira obra, Suicidas, que recebeu os prêmios: São Paulo de Literatura e o Machado de Assis, concedido pela Biblioteca Nacional.
Mas chega de lenga lenga. É hora de dizer o porquê desse livro ter mexido tanto comigo.

" Queria estar na última fileira do cinema com Clarice. Ela o havia beijado naquele churrasco. Por que parar? Do beijo, furtado e furtivo, ele havia se tornado refém. Não era invasor, mas o invadido; não queria só desvendar, mas ser desvendado. Ele amava Clarice, admitiu. Precisava ser amado"

Téo é estudante de medicina, cultiva uma estranha amizade com um cadáver, e vive com sua mãe paraplégica. Praticamente obrigado a comparecer em um churrasco de uma das amigas da mãe dele, Téo conhece Clarice, e se apaixona perdidamente pela jovem. Só que a paixão não é recíproca, e Téo irá fazer de tudo para conquistar o amor de Clarice.

O que uma mala samsonite, um estudante de medicina, e um roteiro de filme tem em comum? Tudo. Bem, isso é apenas um gostinho do que você encontrará ao embarcar na leitura de Dias Perfeitos.
Nem preciso falar o quanto a leitura me prendeu. Para vocês terem noção, eu fiquei acordada a madrugada inteira porque não conseguia desgrudar meus olhos das páginas.

Uma romance policial? Uma história de amor? um thriller psicológico? até agora não sei como classificar, só sei que a história me deixou tão perplexa, que levei quase 1 mês para escrever essa resenha. E mesmo assim, sinto que não terei como descrever em poucas linhas todas as sensações que senti.
A narração em terceira pessoa parece conversar com o leitor. Montes consegue dar ênfase aos sentimentos dos personagens, mesmo optando por um tipo de narração que em muitas das vezes pode soar como impessoal. É incrível o modo como Raphael explora a mentalidade doentia de Téo.
A história se sustenta praticamente o tempo inteiro com apenas dois personagens: Téo e Clarice. Em nenhum momento a trama cai na monotonia, muito pelo contrário.

Téo é a personagem mais interessante que me deparei em todos os meus anos como leitora (e olha que não são poucos). Suas atitudes eram capazes de despertar as mais variadas reações ambíguas dentro da minha mente. Insano, metódico, apaixonado, alguém com sérios distúrbios? Eu vou falhar mais uma vez, e não saberei classificar.
Várias vezes me peguei reprimindo o pensamento que o problema era comigo (sério, vou precisar de uma terapia forte). Eu queria acreditar nas justificativas dele, que tudo o que ele estava fazendo era por amor, e cheguei até a sentir uma certa uma empatia com ele.
E vocês não fazem noção do que Téo é capaz. Quando eu pensava: - Ok, Raphael, você já me surpreendeu, e não tem como você conseguir me chocar mais do que isso. Logo após eu encontrava uma reviravolta que me desconcertava, e provocava arrepios.

O único motivo para não classificar com 5 estrelas foi a forma brusca e a explicação "bom demais pra ser verdade", com a qual o final de desenrolou. Embora isso não tire o mérito do choque que o desfecho me causou. Sério. Eu fechei o livro e fiquei na sala sentada uns bons 10 minutos pensando: WOW, não sei o que pensar.
A cia das letras realizou um trabalho fantástico com a diagramação, revisão e capa. Esse anão me deixou traumatizada rs E o curioso é que todos os elementos tem uma ligação com o enredo.
Os direitos de adaptação de Dias Perfeitos já foram vendidos para o cinema, e a obra será publicada em outros países.
Dias Perfeitos é uma obra que nem precisaria de indicação para vender. Dá um certo orgulho saber que a literatura nacional tem crescido, e atingido um patamar cada vez mais alto de qualidade.