[Resenha] O Dia Seguinte - Rhidian Brook

Livro: O Dia Seguinte
Autor: Rhidian Brook
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 270
Classificação: 5/5 (favorito)

Minha Opinião:

Rhidian Brook é um premiado autor de ficção, roteiros para televisão e cinema. Seu primeiro romance, The Testimony of Taliesin Jones, recebeu diversos prêmios, entre eles o Somerset Maugham Award.

Como eu tenho mania de ler os agradecimentos antes de iniciar minha leitura, fiquei ainda mais empolgada ao saber que o autor se inspirou em uma situação real para compor o enredo.
Tentei não manter nenhuma expectativa quanto a leitura, e dessa vez funcionou. Fui surpreendida com uma trama emocionante, dramática na medida certa, e com personagens memoráveis e perfeitamente caracterizados.
"Nem sempre é possível julgar um livro pela capa, Ed. Algumas vezes...o mal dentro de alguém...está enterrado bem fundo" (pág.168)
É Setembro de 1946, e a cidade de Hamburgo, agora ocupada por britânicos, começa a juntar seus destroços pós-guerra. O coronel Lewis Morgan - governador de Pinneberg - deve escolher uma mansão em um bairro rico de Hamburgo, e expulsar seu antigo proprietário alemão. Contrariando as regras, ele decide permitir que o antigo morador, Lubert, e sua filha Frieda, de 15 anos, dividam as acomodações. Sua esposa Rachael, ainda em luto pela morte do filho mais velho, não aceita muito bem o acordo. Frieda, que perdeu a mãe no bombardeio, se mostra bastante hostil à presença dos britânicos em sua casa.
Vivendo sob o mesmo teto, as duas famílias irão aprender que apesar de estarem em lados opostos da guerra, certos sentimentos e o sofrimento são universais. 
"Alemão bom é alemão morto" (pág.32)
Eu nunca havia lido nada sobre o período pós-guerra, de modo que o livro serviu como uma verdadeira aula sobre o assunto, o que sempre é bem vindo. 
O autor nos transporta diretamente para as ruínas de uma Alemanha que tenta a todo custo se reerguer em meio ao caos e destruição, que dizimou a vida de muitos. Após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, o país foi dividido em quatro zonas (zona francesa, zona estadunidense, zona britânica e zona soviética), sendo cada país vitorioso, responsável pela desnazificação do povo derrotado. Os cidadãos alemães eram submetidos a responderem o Fragebogen, uma espécie de questionário que os liberava para trabalharem, viajarem, e não serem julgados por associação ao nazismo. 

O incrível é a maneira como Brook leva o leitor a pensar sobre o outro lado: os alemães sofrendo as consequências da guerra, e lutando por sua sobrevivência. Como a repercussão do Holocausto é bem maior, confesso que até o momento eu nunca tinha me questionado sobre a reconstrução da Alemanha.
Somos confrontados com o sentimento de compaixão por um povo que levava a culpa por todas as atrocidades cometidas por Hitler, e eram julgados sem a menor chance de defesa. Na mente de alguns, todos os alemães eram maus, e deveriam pagar pelos pecados do líder nazista. 
"(...)Se não fosse a guerra, o coronel Morgan poderia estar levando uma bela vida em algum lugar da Inglaterra ou de Gales. Não sei. Se não fosse a guerra, o coronel Morgan poderia ter passado mais tempo com a família. Se não fosse a guerra, ele não teria perdido um filho e depois tentado permanecer tão ocupado e trabalhando tanto para não precisar pensar nisso. Embora esteja lá. Em seu coração." (pág.213)
O cenário é devastador e melancólico. Famílias tentam seguir em frente apesar das perdas, casais tentam recomeçar seus relacionamentos, homens e mulheres buscam nos escombros qualquer indício 
de seus familiares desaparecidos, milhares de pessoas sofrem com a fome, mendigam algo para que possam trocar por comida. Definitivamente, este é um livro que te fará sentir, pensar, se indignar, e questionar. 
Rhidian utiliza uma sensibilidade ímpar para explorar as feridas de cada personagem, e trazer à tona seus sentimentos aprisionados. E o autor capta perfeitamente a miríade de sentimentos que se chocam: amor e ódio, compaixão e repulsão, culpa e traição, luto e agradecimento.
As personagens são controversas, e a convivência na mesma casa é cada vez mais conturbada. Os relacionamentos parecem se mover acima de uma mina terrestre: cada palavra, ou ação, desencadeavam uma variedade de reações. As divergências são apenas o pano de fundo de um enredo grandioso, que combina brilhantemente os elementos ficcionais aos fatos históricos.

A narrativa em terceira pessoa conferiu uma profundidade maior a trama. A imparcialidade do narrador deixa uma brecha para que o leitor escolha um personagem para quem torcer. O coronel Lewis foi de longe o personagem mais marcante para mim. Me identifiquei instantaneamente com a sua bondade, e a sua capacidade de sempre enxergar o lado bom das pessoas.
A única reclamação que eu tenho a fazer, é sobre a quantidade de palavras no idioma alemão que não foram traduzidas. Li o livro inteiro com o google tradutor a disposição no meu celular.

O Dia Seguinte traz um retrato pungente e humano, sobre as marcas profundas deixadas pela guerra. Não me surpreenderia se fosse considerado um clássico daqui a alguns anos. Até o momento, melhor leitura do ano. Recomendo

8 comentários:

  1. OI Jacque
    Menina essa capa me chamou muita atenção quando vi sua resenha, ainda não conhecia.
    Esse tema é um que me atrai muito.
    Adorei a dica*

    Beijinhos

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  2. Oie Jacque =)

    Só da história ter como base a Segunda Guerra, faz com que o livro me chama a atenção.
    A capa dele já tinha me chamado a atenção, mas depois de ler a sua resenha fiquei bastante curiosa para conhecer melhor a história.
    Dica anotada!

    Beijos e um ótimo final de semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  3. Não conhecia o livro, mas fiquei super interesada em ler. É um tema incrível.

    Beijos,
    Carissa
    www.carissavieira.com

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  4. Nossa achei esse livro bem interessante. Eu não sou das que acha que a culpa é de todos os alemães. Tanto que todos os livros que li que se passam nesse período, sempre é uma família de alemães que escondem ou socorrem algum judeu. Vou anotar aqui. Assim que der vou comprar.

    Blog Prefácio

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  5. Oi Jacqueline, tudo bom? Assim como você, nunca li nada que se passa em um período pós guerra e confesso que fiquei bem tentada a começar por este livro! Saber que foi sua melhor leitura do ano e que aborda os efeitos pós guerra na sociedade me deixaram bem curiosa. Sugestão anotada ^^

    Beijos!
    @PollyanaCampos
    Entre Livros e Personagens

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  6. Olá Jacqueline,

    Essa é a primeira resenha que leio desse livro e confesso que me deixou muito curioso, gosto demais do estilo e já vou colocar na minha lista de desejados...parabéns pela sua resenha...abraço.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

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  7. Olá Jaqueline! Acabei de ler o livro, adorei a leitura e já havia lido O LEITOR, de B.Schlink, também ambientado no período pós-guerra. Fiquei tão empolgada com a narrativa de Rhidian que vou ousar até incrementar as partes finais, quando os irmãos de Albert percebem que Frieda será mutti", escrevendo um texto. Livro inspirador.

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  8. A minha reclamação também é sobre a quantidade de palavras em alemão não traduzidas. Isso nos faz perder um pouco o foco na leitura, pq precisamos o tempo todo parar para traduzir as frases --'

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