[Resenha] Meia-noite na Austenlândia - Shannon Hale

Livro: Meia-noite na Austenlândia
Autora: Shannon Hale
Editora: Record
Número de páginas: 318
Classificação: 4/5

Minha Opinião:

Minha primeira experiência com Shannon Hale (resenha de Austenlândia aqui) não foi como eu esperava. Depositei muita expectativa em um romance de tirar o fôlego, e fui surpreendida com uma trama que puxava mais pra comédia do que pro romance.

Com Meia-noite em Austenlândia decidi manter a mente aberta. A surpresa foi imediata. Eu não imaginava que estaria com tanta saudade do cenário de Austenlândia, até mergulhar novamente de cabeça nos acontecimentos de Prembrook Park.
Para o meu total e completo fascínio, Hale inovou e trouxe um mistério à la Agatha Christie para ser desvendado. E não é que a mistura inusitada dos dois mundos deu muito certo?
Charlotte Kinder teve muita sorte nos negócios, mas o mesmo não se pode afirmar sobre sua vida amorosa. Seu ex-marido James a trocou por outra mulher, e o divórcio a deixou desolada. Tentando abstrair um pouco a tristeza por estar longe dos filhos - que foram passar as férias com o pai -, ela revira objetos antigos de sua adolescência. E em meio as caixas, ela encontra uma lista de coisas que pretendia fazer antes dos 30. Como os únicos objetivos não concluídos era escalar o monte Kilimanjaro e ler Jane Austen, ela opta pela segunda opção.
Após ler todos os romances de Jane Austen, ela segue os conselhos de uma agente de viagem, e decide passar suas férias em Prembrook Park.
Por ter sido uma ávida leitora de Agatha Christie, Charlotte não consegue passar muito tempo sem imaginar que um verdadeiro crime pode estar acontecendo na casa, e após o sumiço de um dos hóspedes, ela começa a achar que a realidade pode não ser muito diferente das muitas ficções que ela lê.

"A senhora me enfeitiça quando fica em silêncio, Sra.Cordial (...)Estou exagerando? Sou direto demais por desejar intimidade com meus pensamentos? - disse ele"

Preciso dizer que Shannon me surpreendeu - e muito - nessa revisita ao mundo de Austenlândia. A narração em terceira pessoa dessa vez foi muito bem aproveitada. Era divertido ver o narrador interagindo com o leitor, com suas observações super engraçadas sobre Charlotte.
A protagonista da vez também ajudou muito para o meu envolvimento com a obra. Charlotte é o tipo de mulher que possui a imaginação pra lá de fértil, e é super inteligente. Me identifiquei muito com ela, pois ao visitar locais estranhos e sombrios, fico imaginando que tipos de histórias estariam por trás do lugar. Combine isso ao fato dela ser uma ávida leitora de Agatha Christie, e inventar conspirações a todo instante.

" - O que você está fazendo? - perguntou Charlotte.- Tentando cortejar você. - Ele continuou a olhar para os lábios dela. - Está funcionando? Porque faz muito tempo que não cortejo ninguém de verdade e não consigo me lembrar de como é. Só sei que quero ficar olhando para você."

Os diálogos são ricos, com tiradas inteligentes, bem humoradas. O lado cômico da narrativa predomina sobre o romântico, mas podem ficar calmos, pois temos sim cenas para suspirar.
A combinação de investigação e romance não poderia ser mais acertada. O mistério por trás da ingênua brincadeira "Assassino Sangrento" promovido por um dos personagens, mantém o leitor completamente imerso na trama.
Os romances e heroínas de Austen não são esquecidos. A abadia de Northanger foi o escolhido da vez, e apesar de eu ainda não ter lido o livro, não me senti perdida com as referências.
O suspense, e as inúmeras dúvidas sobre se realmente teria um assassino na casa, ou se tudo seria um produto da imaginação de Charlotte, movimentam o enredo com reviravoltas de tirar o fôlego.
Alguns excêntricos personagens estão de volta, que é o caso da Srta. Charming e o Coronel Andrews. Eu me divirto muito com esses dois, especialmente com a personagem que Charming interpreta na casa.

Dessa vez me deixei levar pelo romance sem muita expectativa, e o resultado foi positivo. Apesar de já imaginar que teria uma reviravolta digna de Shannon, amei o desfecho.
A edição da Record está impecável. Não encontrei nenhum erro de digitação, e a folha e fonte são confortáveis para a leitura. A capa tem um efeito emborrachado, que eu pessoalmente amo.
Meia-noite em Austenlândia é o livro perfeito para os fãs de mistério e romance. Posso assegurar que ao terminar a leitura, você vai desejar que Austenlândia seja real.