[Resenha] Remissão da pena - Patrick Modiano

Livro: Remissão da pena
Autor: Patrick Modiano
Editora: Record
Número de páginas: 128
Classificação: 3/5

Minha Opinião:

Jean Patrick Modiano nasceu em Bolulogne-Billancourt, um subúrbio de Paris, em 1945. É um autor francês ganhador de diversos prêmios, como o Goncourt e o Grand Prix du Roman da Academia Francesa. Com mais de trinta livros publicados em mais de trinta idiomas, em 2014 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Dessa vez em minha defesa, preciso dizer que não foi somente o fato do autor ter sido premiado com o Nobel, que me fez ter curiosidade de ler sua obra. Entre muitos motivos, os mais importantes foram: 1) se tratar de um autor francês, 2) a história ser uma autobiografia romanceada, 3) a obra ser super elogiada. O fato de Patrick ter recebido muitos prêmios que costumam me deixar reticente em uma leitura desse tipo, não pesaram tanto no fator expectativa. Eu esperava sim uma história extraordinária, e me deparei com um estilo bem diferente do qual estou acostumada, para a minha completa felicidade.

Em pouco mais de 120 páginas, nos deparamos com as memórias - ainda que fugidias - de um garoto de 10 anos. Patoche, como era chamado, foi deixado aos cuidados de três amigas em um vilarejo de Paris. A rue du Docteur-Dordaine, é palco da maioria de suas recordações, que são suscitadas conforme ele revisita os lugares que conheceu quando criança. Assim, passado e presente se mesclam em uma cadência lenta, permeada por uma narrativa que suscita mais perguntas do que as poucas respostas.
 "E me surpreendo que os polícias não tenham me interrogado: entretanto as crianças veem. E ouvem também."
As personagens são evasivas, e a aura que envolve suas personalidades, parece envolta de mistérios. Tudo o que sabemos é que Hélene é uma ex-artista de circo; que Annie, a mais jovem e bondosa, ia quase todos os dias para Paris em seu  Renault 4cv bege; e a mãe Mathilde o tratava como um imbecil afortunado. Além das três mulheres, e uma babá a quem Patoche chamava de Branca de Neve, outros visitantes costumeiros completam o elenco. A interação entre Roger Vincent, Jean D., e Andrée K., com as três mulheres não é claramente elucidada.
"Certos objetos desaparecem de nossa vida ao primeiro momento de desatenção, mas aquela cigarreira permaneceu fiel a mim."
Evasivo parece ser a característica chave na narração de Modiano. Fragmentos de conversas e as lembranças de Patoche, são tudo o que o leitor tem para tentar montar o quebra cabeça que é a trama. Somente quando Patoche chega a idade adulta, e alguns dos personagens de seu passado reaparecem, ele parece se dar conta da importância de certos objetos, gestos, e frases.
As inconsistências de suas lembranças são inquietantes, e as lacunas deixadas para que o leitor venha a interpretá-las e preenchê-las, são um combustível infalível que mantém o leitor preso em suas páginas.

Mesmo com um desfecho inconclusivo, a obra de Modiano consegue permanecer acima da média pela singeleza e tato em explorar a obscuridade da memória humana.
Conclui que Modiano não é um autor para qualquer leitor, mas certamente o leitor que se aventurar em sua obra, que esquadrinha com sensibilidade ímpar as lembranças de uma criança, vai entender o motivo do autor ter levado o Nobel. Mais do que merecido, e mais do que recomendado.

9 comentários:

  1. Oi Jacque, como vai? Não tinha ouvido falar do Jean, nem de seus prêmios. Fiquei muito interessada por seus livros!

    Beijos,
    Carol, do criticandoporai.com.br

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  2. Oi Jacque, já tinha visto o livro por aí, mas não tinha muita ideia do que ele tratava. Não sou uma pessoa que lida muito bem com histórias tão abertas, mas se é realmente algo autobiográfico, nada mais natural do que a pessoa ter algumas memorias mais esparsas sobre os acontecimentos. Gostei de seus comentários, pelo menos.

    Beijos

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  3. Oi Jacque
    Olha, eu nunca vi este livro. Algo nele me chamou a tenção, sua resenha também ajudou, fiquei um pouco curiosa... É uma premissa interessante, se eu tiver oportunidade lerei.

    Beijos

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  4. Oi Jacque,
    Ainda não conhecia o livro e a primeira vista a trama não despertou meu interesse, mas os seus comentários positivos e o fato do autor ter recebido um Nobel, já são elementos que levarei em consideração, caso eu venha a lê-lo um dia.

    *bye*
    http://loucaporromances.blogspot.com.br/

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  5. nunca li nada do autor, e não o conhecia até muito pouco tempo atrás, agora tenho visto várias resenhas e livros dele.
    esse parece ser bastante interessante.
    um dia acho que lerei alguma obra dele.

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  6. Amiga sinceramente nunca li nada desse autor e esse livro na verdade não me chamou muita atenção por conta do conteúdo. Seilá, acho que meu gosto não bateu com ele. Mas mesmo assim achei que você desenvolveu uma ótima resenha. É bastante interessante pra quem gosta. Mas eu sinceramente não me senti atraida para ler. Enfim... =]

    http://lovereadmybooks.blogspot.com.br/2015/04/resenha-se-joga.html

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  7. Oi, Jacque!
    Confesso que a obra a princípio não despertou muito interesse, não senti uma conexão ou algo que me fizesse querê-lo, infelizmente. Mas seus comentários despertaram minha curiosidade, boa dica.

    Beijo

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  8. Oi, Jacque! Tudo bem?

    Gostei da resenha. Não conhecia o livro e o autor e, apesar de não me sentir interessada por ele, achei uma dica bem válida. Especialmente pela quantidade de páginas - ando precisando de livrinhos mais finos por conta do tempo.

    Um beijo,
    Doce Sabor dos Livros docesabordoslivros.blogspot.com

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  9. Oi, Jacque!

    Já li "Uma Rua de Roma" e fiquei curiosa para ler "Remissão de Pena". A questão da memória, a obscuridade e as lacunas fazem parte das obras dele. Achei tudo isso bem interessante, é tão sutil e há uma certa profundidade em todo aquele mar de perguntas sem respostas. Gostei da escrita do Patrick e concordo quando mencionou o fato de que não é uma leitura para todos, mas que vale muito a pena.

    Beijocas.
    http://artesaliteraria.blogspot.com.br

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