[Resenha] O sol é para todos - Harper Lee

Livro: O sol é para todos
Autora: Harper Lee
Editora: José Olympio
Número de páginas: 349
Classificação: 5/5 (favorito)

Minha Opinião:

O sol é para todos ganhou o Prêmio Pulitzer em 1961 e de origem a um filme homônimo, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado, em 1962.

Durante muitos anos eu andei à procura desse livro. Como as edições lançadas eram bem antigas, só fui achar mesmo em sebos, e mesmo assim com preços bem absurdos.

Meus problemas acabaram quando o selo José Olympio do Grupo Editorial Record anunciou o lançamento dessa nova edição. O sol é para todos sempre foi o clássico que mais desejei ter e ler, e com certeza a resenha não vai conseguir exprimir tantos sentimentos pós-leitura.

A história se passa na década de 30, era da Grande Depressão, na cidade fictícia de Maycomb, Alabama.
O livro é narrado em primeira pessoa, por Scout, de 8 anos. Durante 3 anos, Scout narra suas aventuras junto a seu irmão Jem, e seu amigo Dill. Dividido em duas partes, na primeira acompanhamos as idas a escola, suas aventuras, e a fixação que os três tinham pelo vizinho Boo Radley. Já na segunda parte, acompanhamos o desenrolar do julgamento de um negro, acusado de estuprar uma mulher branca, defendido por Atticus Finch, e o impacto desse julgamento na vida dos filhos de Atticus, e de toda a cidade.

"A única coisa que não deve se curvar ao julgamento da maioria é a consciência de uma pessoa." (Atticus)

Desde o início eu já sabia que o livro traria o tipo de história memorável, do tipo que deixa uma marca no leitor.
Ainda que a narrativa seja um pouco mais lenta na primeira parte, e eu até tenha chegado a pensar em como a trama era simplista, Harper me surpreendeu. De simples o enredo nada tinha. Assuntos como racismo, descriminação, desigualdade, injustiça, bullying, e a inocência perdida, são alguns dos pontos abordados que certamente irão prender a atenção do leitor até a última página.

"(...)Queria que você soubesse o que é a verdadeira coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma na mão. Coragem é fazer uma coisa mesmo estando derrotado antes de começar. E mesmo assim ir até o fim, apesar de tudo. Você raramente vai vencer, mas às vezes vai conseguir" (Atticus)

Enquanto na primeira parte acompanhamos as trivialidades que envolvem a vida das três crianças, é a forma como Lee faz a transição para o julgamento, e outras questões, que me pegou desprevenida. Ambas as partes foram perfeitamente montadas. Confesso que a segunda me atraiu muito mais. A maior parte do julgamento tirou o meu fôlego.

"Para mim não há nada mais repugnante do que um branco de quinta categoria tirar vantagem da ignorância de um negro. podem ter certeza: essa dívida está aumentando e um dia vamos pagar essa coisa. Espero que até lá vocês já tenham morrido" (Atticus)

Os personagens são emblemáticos, e distintos. Atticus sem dúvida é o personagem que eu mais gostei. Ele tem um senso de justiça sem igual, e uma moralidade fora do comum. Sua personalidade é habilmente trabalhada. Tinha um bom tempo que eu não me deparava com tamanha profundidade em um personagem.
Scout tem aquela inocência característica, apesar de em determinados momentos eu ter achado que ela era bem madura para a sua idade.
A figura silenciosa e inóspita de Boo Radley, pairando pelas páginas, foi um mistério muito bem trabalhado até o desfecho.

Há tantas coisas que eu gostaria de pontuar nesse livro, mas vou deixar a maior parte para vocês desvendarem durante a leitura. Meu exemplar ficou recheado de marcadores pelas páginas, graças aos inúmeros quotes inesquecíveis.
A atemporalidade da obra, é mais um dos motivos pelo qual eu indicaria veemente essa leitura. Não importa que os fatos tenham acontecido de forma fictícia na década de 30, o racismo é algo que assola o mundo inteiro até os dias atuais. E infelizmente parece estar longe de acabar.
O sol é para todos é uma obra-prima dos clássicos. Uma leitura imperdível, e com qualidade inquestionável.