[Resenha] A balada de Adam Henry - Ian McEwan

Livro: A balada de Adam Henry
Autor: Ian McEwan
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 200
Classificação: 5/5

Minha Opinião:

Após meu primeiro encontro com o autor através da obra Serena (resenha aqui), nutri o desejo de ler todas os livros de Ian o quanto antes.
Foi assim que me interessei imediatamente por A balada de Adam Henry.

Saber que o enredo envolvia um romance e casos polêmicos, só aumentou a minha curiosidade.
Aqui está um belo exemplo de clássico contemporâneo. McEwan é um dos ficcionistas mais importantes de sua geração, e cada vez que eu leio uma obra sua me sinto privilegiada.


Com pouco mais de 190 páginas, A balada de Adam Henry, é um livro curto, mas com um enredo grandioso e impactante.
A história gira em torno da juíza Fiona Maye, que preside no Tribunal Superior, especializada em direito da família. Nos tribunais ela é conhecida por sua "imparcialidade divida e inteligência diabólica".
Prestes a completar 60 anos, seu casamento está prestes a desmoronar. Seu marido avisa que não está feliz na relação, e que um relacionamento aberto seria a salvação dos vários anos de companheirismo e casamento que eles dividiram. Ela recebe a proposta com choque, descrença e surpresa.

Além de lidar com os problemas conjugais, ela acaba sendo arrastada para a vida de Adam Henry, um  garoto de dezessete anos que tem leucemia, e se vê impedido de fazer uma transfusão sanguínea por conta da religião dos pais, que são testemunhas de Jeová.
Fiona defende o tratamento de Adam, e argumenta a favor dele. Porém, o rapaz nutre sentimentos amorosos por Fiona, o que a deixa desconcertada, e sem saber como lidar com a repulsa por seus desejos que parece tão errados.
"(...) Ele sempre fora amável, leal e bondoso. E, como a Vara de Família provava diariamente, a bondade era o ingrediente humano mais essencial. Ela tinha o poder de afastar uma criança de um pai insensível, e às vezes o fazia. Mas afastar a si mesma de um marido insensível? Quando se sentia frágil e solitária? Onde estava o juiz que iria protegê-la"
Não vou mentir. A balada de Adam Henry não foi um livro fácil de ler. O que eu gosto de enfatizar, é que com Ian, não temos apenas personagens vagos, e uma trama bem montada. Ele nos apresenta a personagens complexos, e um enredo que nos faz argumentar, e nos colocarmos no lugar de cada personagem.
Apesar da sinopse sugerir, a história não se trata apenas de uma juíza que se vê presa a um romance sem futuro com um garoto de dezessete anos. Há tanto a absorver, que eu diria que Ian é mestre em criar tramas intrincadas e repletas de questões morais e éticas.
"Nos círculos dos magistrados, Fiona Maye, mesmo quando ausente, era elogiada por sua prosa incisiva, quase irônica, quase entusiasmada, assim como pelo modo conciso com que expunha a disputa."
Em meio a turbulência na vida privada da juíza, somos arrastados para as discussões de casos polêmicos, como a decisão de separar gêmeos que compartilhavam o mesmo torso, e que resultaria na morte de um deles.
Eu não poderia amar mais as digressões que Ian faz ao longo do texto. Ele passeia entre um tema e outro, sem nunca afastar o interesse e a atenção do leitor.
As divagações religiosas e morais cabem dentro do contexto, e levantam diversos questionamentos.
A narrativa de McEwan é outro ponto que eu admiro. A escrita transita entre o simples e o complexo, trazendo uma linguagem requintada, e clara ao mesmo tempo.

Além dos processos judiciais aleatórios, a minha ânsia em descobrir sobre como o desenrolar do envolvimento de Henry com Fiona, me deixou à beira de ter um ataque de nervos.
Essa é a mágica de Ian: enquanto ele guarda o suspense sobre a trama principal, ele meticulosamente acrescenta elementos que te distraem do assunto principal, mas que te deixam vidrada da mesma forma.
Os personagens, que vivem em meio a um caos pessoal, não poderiam ser mais críveis e interessantes. Jack com a sua insensibilidade e forma simples de querer resolver as coisas; Fiona com a sua moralidade; e Adam com sua sensibilidade.

A balada de Adam Henry é mais uma obra-prima de Ian McEwan. A forma magistral com a qual o autor elucida e traz o desfecho à trama, me fez aplaudir de pé toda a sua inteligência e sensibilidade.
Depois de conhecer um romance de Ian, é impossível resistir ao impulso de querer sair lendo todas as suas obras. Que venham as próximas!

3 comentários:

  1. Jacque, que resenha é essa mulher!
    Fiquei sem ar lendo, curiosidade elevada ao mais alto patamar.
    Fiquei querendo saber como ele trata de tantas discussões em menos de 200 páginas.
    Já entrou para a lista dos "necessito pra ontem".
    Parabéns, resenha incrível!
    Besos :*

    @pirulitolimao | A Garota da Livraria

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  2. Oi Jacque!

    Menina, acho que se eu tiver com um cara e ele chegar pra mim falando de relacionamento aberto eu enlouqueço, sério! Acho que é uma coisa que eu não consideraria. Fiquei muito curiosa acerca do envolvimento de Henry com Fiona, deve dar o que falar (ainda mais com a tal sociedade em que vivemos). Para um livro tão curto, são muitos assuntos impactantes.

    Beijo!
    http://www.roendolivros.com/

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  3. Olá Jacqueline,

    Esse livro já tinha me chamado atenção pela capa e pela sinopse, agora com a sua resenha não tenho dúvidas que devo ler....ótima dica....bjs.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

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